Esperada e recebida com o maior entusiasmo, a vinda à Fernão da grande e internacionalmente reconhecida cientista Elvira Fortunato foi um dos momentos altos deste ano letivo. Ter a honra de acolher alguém que se afirmou como forte candidata ao Prémio Nobel da Física em 2020 e galardoada com o Prémio Pessoa 2020 é motivo suficiente para toda a comunidade se sentir orgulhosa. Quando, porém, a acrescentar a isso se junta o facto de Elvira Fortunato ter sido aluna da escola, então mais forte é a emoção pois trata-se de "um dos nossos" que connosco cresceu, aprendeu e partiu à conquista do seu futuro, voltando agora com tanto para nos ensinar a nós.
Aristóteles terá escrito "O verdadeiro discípulo é aquele que supera o mestre". Elvira Fortunato é disso um bom exemplo.
Boa comunicadora e visivelmente apaixonada pela área em que concentra a sua investigação, Elvira Fortunato levantou questões que são fonte de grande preocupação nos nossos dias mas também semeou esperança, certa de que os progressos da ciência permitirão grandes transformações num futuro não longínquo, com respeito pelo planeta e através de alternativas amigas do ambiente. Problemas como a poluição, nomeadamente no que respeita os plásticos e o lixo eletrónico , estiveram em foco, associando-se a eles tanto o seu aspeto nocivo, pondo em perigo a vida de muitos seres, como a finitude de recursos naturais utilizados para o fabrico de equipamentos que usamos no nosso quotidiano. Entrou-se assim no fascinante mundo dos novos materiais que a ciência vai pondo à disposição, exemplificando-se como, hoje em dia, já é possível obter celulose não à custa do abate de árvores mas através de uma cultura bacteriana.
Indo ao encontro da curiosidade do seu público, Elvira Fortunato explicou de forma simples os princípios subjacentes à construção do transistor de papel - um circuito eletrónico, integrado, feito em papel. O tradicionalmente utilizado silício, enquanto material isolante, foi substituído por papel, passando este, então, a funcionar não só como um substrato onde se depositam todos os materiais para fazer o circuito integrado, mas tornando-se, ele próprio, um material eletrónico.
Engenheira de materiais, por formação, Elvira Fortunato contagiou-nos com o seu entusiasmo pelo fabrico de novos materiais, pelos novos processos de fabrico mas também pelas novas aplicações, hoje em dia, de materiais há muito conhecidos.
Nesta linha de ideias foi inevitável falar-se da eletrónica transparente, outra área em que Elvira Fortunato tem sido pioneira e premiada, e com inúmeras aplicações na vida quotidiana.
O princípio é combinar no mesmo material propriedades óticas, a transparência, e propriedades elétricas, nomeadamente uma elevada condutividade. Os materiais mais condutores, no geral, são os metais que são opacos; os materiais mais transparentes, por exemplo o vidro, são materiais extremamente isolantes. Contudo é possível colocar materiais condutores, como o óxido de zinco, dentro do vidro , sem que sejam visíveis. Os mostradores, usados hoje em inúmeros objetos são um exemplo da aplicação da eletrónica transparente.
Disponível para ouvir e responder a várias questões colocadas pela assistência, Elvira Fortunato abordou ainda dois temas, importantes para quem está a construir o futuro. Um deles, relacionado com o êxito que alcançou, o outro sobre a igualdade de género no mundo da ciência. Objetiva, como sempre, as suas respostas foram claras: para se alcançar o sucesso " é preciso trabalhar, trabalhar, trabalhar", quanto à igualdade de género esclareceu que o número de raparigas é bastante elevado e a qualidade da sua pesquisa muito boa. O problema não se situa a nível do acesso, frequência e êxito em cursos de Ciências, mas sim do acesso a lugares de chefia.
Finalmente foi anunciado o “Meninas na Ciência powered by Barbie”, um programa inovador em parceria com Elvira Fortunato que dá a oportunidade, a uma estudante que frequente o 12º ano de escolaridade, em Portugal, de receber uma Bolsa de Estudo, no valor de 3000€, para qualquer curso de Ciências e/ou Tecnologias da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
Na despedida ficou ainda um caloroso convite para que professores e alunos visitem a Faculdade e o Departamento de Materiais, onde poderão encontrar laboratórios com equipamentos de vanguarda.
Com Elvira Fortunato partilhamos o seu lema:
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